23/03/2007

Observação

- Não, deixa que eu acerto a conta lá.

- Deixa eu pagar a minha parte.

- Eu vou pagar! Você pode ser uma mulher moderna mas eu sou tradicional, da licença.

E ao ouvir essa última frase, no ponto alto do encontro na lanchonete, uma bomba explodiu em mim: "Moderna? Não, não, você deve estar confundindo, não sou moderna, sou romântica!"

Eu explico, afinal de contas, como quase todas as outras palavras do mundo, essa tem um milhão de significados. Do modo como ela foi usada naquele momento, soou da seguinte maneira: "Você é uma mulher moderna, daquelas que curtem a valer, as ditas "independentes" que caçam os homens ao invés de os deixarem cumprir esse papel. Daquelas que não querem saber de filhos porque trabalham trocentas horas por dia e amam sua carreira e cá estamos nós dois pra ver no que dá essa inversão de papéis, essa briga. Mas com licença, não atrapalhe o que resta de macho em mim e deixa eu pagar a porra da conta."

Caros machos, não generalizem. Não arrisco dizer em nome de todas, mas digo por mim. Não é porque trabalho, ganho meu dinheiro e tenho uma carreira; porque sou DJ em lugares legais e sei conversar sobre algum assunto qualquer que pode surpreender por ser uma mulher falando, que sou "independente" (por favor, interpretem a palavra independente no devido contexto) ou não ame namorar, daquele jeito mais intenso e mais consistente que o monte de relacionamentos superficiais que vejo por ai.

Ou seja, tudo que esta aí em cima não significa que eu não largaria essa vida que vivo por uma de comercial de margarina (embora saiba que eles sejam estratégias publicitárias) com filhos, um labrador correndo pela casa e a penosa elaboração de um lindo almoço (no fogão refinado, no da Casas Bahia ou em um fogãozinho de camping de uma praia hippie) pro cônjuge no domingo.

Acontece que as coisas estão confusas, os homens sem saber direito o que fazem com essas novas mulheres, as mulheres sem saber direito o que fazem nessa nova "posição", e no meio de um monte de informações e argumentos externos, as pessoas ficam meio perdidas com relação às suas vontades mais íntimas. Papinho batido esse, mas é.

Falando de uma maneira mais direta, a modernidade do dia a dia, do meio, do contexto, da sociedade, ou seja lá do que for, não impede que eu continue romântica, macho. Quer ver minha carteira da Hello Kitty? Minha presilhinha de colocar no cabelo dividido de lado? Quer ver como eu quase choro quando vejo um filme água com açúcar e não só aquele sobre o aquecimento global do quase presidente americano? Quer ver como a bossa nova, seus acordes e declarações me emocionam? Porra, não confunda, macho. Não é porque acabei de falar um palavrão e gosto de viajar sozinha que não quero um buquê de rosas com florzinhas do campo no meio.

Deixei ele pagar a conta, sim. :-)

12/02/2007

Coisas que não prometi que faria em 2007

Sempre gostei da estrada, sempre adorei viajar, mas era daquelas coisas que sempre adiava, por grana, ou por isso ou por aquilo. Pois bem, com 2007 aí resolvi que seria uma mochileira convicta, ou seja, não passaria vontade.

Lá fui eu, rumo a minha primeira aventura, e para coroar esse momento mágico, sublime, da Laura aventureira, eu deveria ir sozinha, carregar à duras penas a mochila o tempo inteiro. Se não, de que vale o ritual, não é mesmo minha gente? O destino? Resolvi encarar um que estava encruado. Logo lembrei de São Luis do Paraitinga, cidadezinha no Vale do Paraíba que eu conheceria há dois anos atrás, quando já havia até reservado pousada, mas não fui, não me perguntem porque.

Destino traçado, começou o martírio de ser uma "mochileira aventureira", característica minha com a qual meus entes mais próximos não estavam nem um pouco acostumados, nem eu. "Sozinha? O que você vai fazer lá sozinha?" Catzo, porque as pessoas têm esse preconceito todo com a solidão? "Ué, vou passar uns dias sozinha, conheçendo o lugar, investigando a cidade e a mim , qual é o problema?", repeti algumas vezes do alto de toda a minha segurança e independência, mesmo já cogitando não ir.

Mas foi chegada a hora da decisão. Precisava reservar a pousada e fazer o depósito. Feito isso, não teria mais volta. Noites solitárias, perrengues em lugares desconhecidos, enchentes, terremotos, terroristas, leões, tigres, maremotos! Socorro! Calma Laura, não é tudo isso, você é Marie Claire, e agora aventureira também, praticamente apresentadora do mochilão MTV. Imagina que legal, entrar na comunidade do orkut "eu viajo sozinha, e dai?". E outra, você esta precisando, ta querendo....não haverá tubarões em São Luis do Paraitinga, pacata cidadezinha do interior famosa por seu carnaval de rua e marchinhas, olha que simpatia, quase amor, Laura.

- Olá, dona Rosa, quero fazer minha reserva para quinta, sexta e sábado. Sim, estou indo no banco depositar metade. Sim, dona Rosa (semi-impaciente), é um quarto pra uma pessoa SÓ. (como as pessoas insistem nesse tema, não é mesmo?).



Pronto.

Duas horas até Taubaté, parada para pão de queijo com pingado na rodoviária e mais uma hora até meu destino. A estrada é algo pra se apreciar em silêncio. Estradinha bonita essa, podia até sentir o cheiro do mar (apesar da cidade ser na SERRA do mar). À meia-noite lá estava eu (com a alegria de ver estrelas e respirar ar puro misturada à dor nas costas), na terra das marchinhas e casas bucólicas.

Já tinha feito a coisa certa.

Ass: Laura Mochileira.

18/01/2007

Ressaca pós término de relacionamento

(tema, abordado ai em baixo também, mas não confundir catraca de canhão com conhaque de alcatrão)

Nada como um pequeno consumismo depois de terminar um relacionamento, arrastar a melhor amiga pro shopping e arrasar de comprar coisas que jamais compraria em sã consciência: aquela blusa lasciva que tava te olhando há tempos, a sandália com salto gigante que você cansa só de pensar em escalar, mas que te deixa muito mais elegante, aquele livro, aquele, um clássico da literatura russa de mais de 400 páginas que você ainda não tinha tido fôlego pra começar, com direito (pra acompanhar porque ninguém é de ferro) à pequenas crônicas das mulheres de Rubão. Depois de fazer as compras do ano, jantar no restaurante mexicano que nunca acontecia nos já velhos tempos para, posteriormente, se jogar no bolo de chocolate, pois já que não há relacionamento, resta o chocolate, queridas amigas. Ai, esses impulsos. Se o relacionamento foi um baby, um mini-relacionamento, melhor ainda, a ressaca nem é tão forte, o dinhero gasto é menor, e ainda há discernimento pra separar o que é uma boa oferta de uma grande furada.

28/11/2006

Amores líquidos

"O desvanecimento das habilidades de sociabilidade é reforçado e acelerado pela tendência, inspirado no estilo de vida consumista dominante, a tratar os outros seres humanos como objetos de consumo e a julgá-los, segundo o padrão desses objetos, pelo volume de prazer que provavelmente oferecem e em termos de seu "valor monetário". Na melhor das hipóteses, os outros são avaliados como companheiros na atividade essencialmente solitária do consumo, parceiros nas alegrias do consumo, cujas presença e participação ativa podem intensificar esses prazeres. Nesse processo, os valores intrínsecos dos outros como seres humanos singulares ( e assim também a preocupação com eles por si mesmos, e por essa singularidade) estão quase desaparecendo de vista. A solidariedade humana é a primeira baixa causada pelo triunfo do mercado consumidor."

Trecho de "Amor Líquido, sobre a fragilidade dos laços humanos" do sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

09/10/2006

Zumbi

Grafite por Pato e Jey, feito para a produção (Laura, Gledison, Rogério, Gabriel, Aldo) do clipe "Memorando" - Nação Zumbi, concurso Trama Universitário.

testeeeeeeeeee.

01